Velho livro

Queria eu saber falar de coisas banais, desde pequeno fui instruído
a falar corretamente, meu pai pecuarista decente me trouxe no lombo
do burro, de baixo de um sol quente, vi a seca castigar meu nordeste
cearense sem nenhuma piedade, meu pai depois de perder suas va
quinhas se tornou mais um indigente, viemos pra uma metrópole para
pelo menos salvar os dentes, não conseguimos, nem prestígio muito
menos uma dentadura, de tanto calar as dores que sofria meu coração,
um velho senhor nos estendeu a mão, dizendo: não chores mais filho
do sertão, sei que estás fastiado com sua existencia, que suas vestes
não tem a mínima decencia, seu pai já cansado nem mais o burro tem
vocês vem comigo que na minha casa pelo menos arroz tem.
Cheguei na casa desse senhor inocente, comentei com meu pai
que alma boa esse senhor tem porém meu pai já não dava mais ouvidos
a mim pois já tinha semanas que estava com fome, mal esperou o garfo
chegar já foi a mesa logo atacar, com verocidade as lágrimas escorriam,
nunca tinha visto um pecuarista tão decente passar fome feito indigente,
ah ! que saudade do meu sertão cearense, com seu céu azul sem mágoa
que onde eu morava não passava nem um fio d'água, as vezes o céu me
lembrava o mar, que tinha visto por foto agora que estou no rio posso
realizar o sonho de beber água salgada, a pele lavar, meu pai não se aguen
tava de emoção quando viu seu filhão, jogado no mar, dizia ele que parecia
até um peixe a nadar.
O velho senhor não quis me dizer o seu nome mas tocou a alma com
letras de um velho livro, que ele chamava de bíblia, onde um ser lhe ensinou
a ser generoso, amoroso, honesto e terno parecia uma daquelas figuras que
só se vê em ficção, não tinha passado nem futuro mas dizia ele que só
tinha razão de estender a mão a um burro velho como meu pai, que sorte
nós demos por encontrar tão caridosa alma que tocaste profundamente meu
coração e como se fosse nun passe de mágica sumiu como se fosse o verão
deixando saudade, ah meus tempos de famosidade.